terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o avesso do retrato ou o paralelo triangular ou poema à trois


de vidro

o quarto tinha a luz de uma doce canção
batida de beatles

seiscentos sussurros saiam
em seus olhos soníferos

bêbada de sua embriaguez
enlouqueci

um gato persa ou um husky siberiano

a fumaça de meu cigarro perguntava
se aqueles olhos decifravam meus desejos

sua embriaguez me atravessou como uma porta

de vidro

o quarto tinha a luz de uma doce canção
batida de beatles

seiscentos sussurros saiam
em seus olhos soníferos

bêbada de sua embriaguez
enlouqueci

um gato persa ou um husky siberiano

a fumaça de meu cigarro perguntava
se aqueles olhos decifravam meus desejos

sua embriaguez me atravessou como uma porta

de vidro

o quarto tinha a luz de uma doce canção
batida de beatles

seiscentos sussurros saiam
em seus olhos soníferos

bêbada de sua embriaguez
enlouqueci

um gato persa ou um husky siberiano

a fumaça de meu cigarro perguntava
se aqueles olhos decifravam meus desejos

sua embriaguez me atravessou como uma porta




segunda-feira, 14 de novembro de 2011

receita para se consertar o amor


dissecar mariposas
e dá-las à rebeca

pagar as contas do mês
e dá-las à carol

tocar em todos os tons
e dá-los à julielly

metrificar sentimentos
e dá-los ao jamesson

buscar o melhor pandeiro
e dá-lo à camila

fretar um avião particular
e dá-lo à gabriela

plantar margaridas
e dá-las à dayse

destilar perdão do peito
e dá-lo à eveline

exalar aromas e ervas
e dá-las à misha

lembrar todos os versos
e dá-los à yani

trocar as fraldas perdidas
e dá-las à lyzza

guardar esperanças
e dá-las à mariana

cantar todas de chico
e dá-las à gabi

apagar memórias de menina
e dá-las ao rômulo

congelar os degrades
e dá-los à jéssyca

comprar o grande hotel
e dá-lo à mari

voltar o tempo perdido
e não dá-lo à carolina




quarta-feira, 9 de novembro de 2011

aconteceu ontem

o coitado do mendigo foi acorrentado
por ser contra a corrente do milico que dizia:

-- na lei das moralidades
é proibido se sentar na calçada da padaria

terça-feira, 8 de novembro de 2011

feitiço ao escorpião que não me feriu

tu vais fazer com ela
o mesmo que fez comigo
mas no fundo ficará o vazio

não serei eu a estar ali

e eu vou fazer com elas
o mesmo que fiz contigo
mas no fundo ficará o vazio

também não serei eu a estar ali


terça-feira, 25 de outubro de 2011

devaneio à menina exata


quando a madrugada acordou já era tarde
teus olhos me haviam criado um problema

provar por A + B que a somatória de nossos elementos resulta no meu querer

a nossa solução é em si o dilema:

eu versifico tuas contas
tu metrifica meus poemas 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

viajar começa nos devaneios do relógio


o sol manchava caramelo em camisas

raios sumiam como se acabassem os colibris

a roupa na janela fervilhava um fraco fogo

procurei seguro o tempo das fotografias

o corpo esqueçeu-te na boca de vênus

apanhei no futuro falas recortadas:

- esquecer jornais nos diferencia do mar -

sujei de bocas as criaturas dos confetes

estrangulei-as no espelho inúteis vezes

e ainda assim forçavam amarelos

domingo, 16 de outubro de 2011

Foi pensando nela



Deborah Gomes

Foi pensando nela que acordei
o corpo de ressaca
a mente desconcentrada
e o gosto dela fez lembrar
que desta vez eu não sonhei

Tentei dizer em palavras
pronúncias caladas
enquando as línguas se encontravam

enquanto os corpos se juntavam
enquanto nada mais importava
e o mundo, por segundos, parava.

sábado, 15 de outubro de 2011

costura



nu
vê-los

seus dedais
nos caracóis
dos meus cabelos

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

experimentação de passarinho

assistir ao avesso um barco a cores
pedaços de escrever embora
a xícara estuda a sala e a decora
na soleira um livro de saudades
amarra o rastro do mundo
um insetos se despe de insumos
o arauto cheiro dos que desertam
embriaga a pele de escuros
diabo a dormir em cima da hora
demora o contrário do cansaço
clareia o remorso da noite
pela manhã o inverso se repete
-- esperar cartas é gostar do tempo

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

dança do acasalamento

acaba a luz
ela se deita
ele pega a única coberta
ela se cobre
chove
ele se deita de lado
ela se deita de frente
ele se deita de frente
ela se deita de lado
ele se deita de lado
ela se deita de bruços
ele se vira pro outro lado
ela se deita de lado
ele se deita de lado
ela não se mexe
ele se aproxima
ela não se mexe
ele encosta a perna nela
ela encosta a perna nele
eles se encaixam
ela não se mexe
ele passa a mão nas costas dela
ela não se mexe
ele respira em sua nuca
ela não se mexe
ele passa o braço em volta dela
ela não se mexe
ele se enrijesse
ela se mexe
ele se mexe
ela se mexe
ele se mexe
ela se vira


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

setembro


disso de início de primavera ainda quente dentro bosque de dentro de si espinhos bailando borboletas bebadas gritam fatos de gêmea flor:
-- tua estação durou mais que um segundo


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

codinome II



eu a escondi no jardim do sótão
lugar onde o delírio da pele
não a confunda com outras flores
a lentidão com que me olha
sufoca a economia de insumos
ainda cultivo o exercício da liberdade
hoje é apenas um grafismo ilegal
numa parede onde nunca morei
é preciso economizar palavras
movimentar-se durante o sonho
bendizer o que eu não sei
tentar tocar o céu acalçar a pena
sobressaltar solidões e sobretudo
é preciso não confundir as flores

sábado, 13 de agosto de 2011

Para se ler ao som de Amelie




com o peso das coisas descobri
o mundo só é portátil
para quem consegue carregá-lo
então façamos um trato
siga pela rua sem planos
e eu te encontro na esquina
numa beira de um beco na piscina
a gente arranja um barraco
e põe o nome dele de amor
você segura minha mão
solta meu cabelo e eu te ponho um vestido
nossos dedos juntos serão multicoloridos
vamos pintar o mundo e roubar sorveterias
queimar grama e distribuir alegria
porque meu medo de te assustar
não é menor do que o de te viver
então carregue este poema e me porte com você
.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

codinome


voltar ao mesmo lugar onde tudo começou. ela que não acreditava em coincidências. uma flor parada na imensidão do lado oposto do mundo. uma flor de pedra de papel de tesoura de alma. uma flor que reside no sonho e não se destila. que conta seus segredos ao vento e espera o mesmo milagre da primeira vez. que tem em suas costas o peso inteiro de uma vida cada vez mais leve. e de pena e pluma, refaz o mundo no traço da sua coleção de uma ausência só. foi esta flor que esta noite desfez em passo de dança outro tempo de equilíbrio. e confiando fidelidades à sua aposta restante, bebeu o último gole do licor lírico dos sonhos. e sonhou pela última vez.

domingo, 31 de julho de 2011

Saudade




somente 
um silêncio
que abate 


batendo 
contra 
a vontade

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Tentacular tentativa de te entender


Rômulo Rodrigues

A ti, a quem, avisado da dor que sentiria se te amasse,

não temi a dor, mas prossegui amando...

Então, tu sabes, desde antes te perdoara,

desde antes, estivera pronto para te perder

e te guardar pra sempre

entre meus amores...



Que dia foi que eu te vi?

Que dia foi?

Despetalada e triste e suja e bela...

assim, deixada, desenganada, cheia de trela...

A rosa, a flor, o passarinho a espera...



Que dia foi que te vi,

colibri dourado,

malogrado amor por ensimesmado eu?

Que dia foi?



Porque diante de tanta luz

tu apagaste o meu suspiro

desesperada pelo teu sofrimento constante,

desamor constante,

desconcertante descontentamento

de que fizestes em tua vida

o alimento?



Vives a dizer "eu amo"

enquanto sem amor por si,

e mesmo assim ensimesmada,

derramas cada dia,

cada gota,

a vida pouca que te basta!



E por que te basta, assim,

tão pouca vida?

Cismo, grave: será porque aprendestes

a viver do nada?

Ou será porque, desse nada que tu vives,

sem amor, desconsolada,

é que retiras todo estro da tua poesia?



E o rio mar que drummond andrade

poderia dizer de ti:

sim, trouxestes a chave!



Mas mais ainda,

a ela te apegaste

com tal apreço aguerrida,

que não te basta a morte,

nem te chega a vida_



Como o ideal do avesso,

porém, platônica ainda,

te ris de todo medo,

e de toda dor,

e de todo amor que de ti isolas

para perder-se de toda felicidade_



Antes, então, a solidão e a dor

(a tua e a de todos),

nada mais te importa

que derramar teu estro

livremente

porque tu tens a chave!



E daí pergunto uma vez mais:

Que dia foi que te vi?

Que dia foi?



Foi nunca, eu sei!

Nunca te vi e te amei...

um amor maior que eu quisera

sem jamais saber-te, eu sei!



E agora, aqui, inquieto, choro

e grito o grito tolo dos aflitos...

O grito de quem nadou em seu corpo,

De quem beijou todos os seus lábios,

De quem bebeu em todos os teus fossos,

De quem se perdeu em teus calabouços

E em tuas masmorras é torturado!



Sim, nunca te vi, ainda que estive dentro de ti,

Nunca te vi, ainda que renasci em teu peito,

Eu mesma a flor do meu doce amor por ti,

Nunca te vi!



Mas que saudade assim do rio mar que corre e

sexta-feira, 3 de junho de 2011


tenho coisas pra fazer
em você não faço nada
tenho vidas por viver
de constante namorada
mas contigo a sofrer
eu nem mesmo sou abrigo
resta o corpo a temer
teu restante de respiro

sexta-feira, 20 de maio de 2011

porque ela se suicidava todos os dias, e ninguém acreditava...




ela acordou em mais um dia normal. cansada, atrasada, deixada por fazer. a morte lhe visitava pelas manhãs e ela não escondia mais as olheiras, não fazia mais questão de se esconder. apenas existia, não se sabe porque, em um mundo que já não fazia mais sentido. todo o esforço concentrado em terminar as ideias que lhe eram refutadas, dentro de um labirinto que suas concepções condenavam, era desgastante e em vão. sempre havia outra porta, que dava para outra porta, que se fechava em outras portas. não havia ajuda, não havia auxílio, se fora o tempo dos milagres. o milagre que ela esperava, nunca acontecera. houve um tempo em que ela encontrou o centro do labirinto. e nele, um espelho. nesse tempo, ela acreditou fielmente na imagem refletida como porta de saída. e tentou ir até o fim. se doava em respostas, seguia intuições, se apegava aos pequenos sinais, defendia seus passos com a convicção de um cão farejador. porém o tempo se divertia, lhe dando pistas erradas, farejos sem volta e nenhuma bateria a se recarregar. a saída nunca foi encontrada. a falta de energia do labirinto a contaminava de estranheza. ela não tinha ninguém ao seu lado, e seguia, congelada. a cada nova tentativa um novo retorno ao mesmo ponto, que há tempos perdera qual era. dormir já não lhe era habitual e aquela imagem que guardava como resposta se desfazia em borrão, que se desfazia em pontos de luz, que a refaziam como o próprio escuro. seguia inerte seu ciclo, por um caminho novo e pelo mesmo caminho. se matando para chegar no horário, se matando para cumprir os prazos, se matando para se mostrar saudável, para demonstrar cuidado. se matando para não morrer.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

porque os amores imperfeitos são as flores da estação...

o amor assim, era luz. e ela amava. não importa a quantidade de eu te amos ditos no passado. o amor era o amor. vivo e habitado nela desde então. eles não se acostumavam com o amor que ela dava. e não tinham mesmo que se acostumar. esse excesso de luz e luto. o extremismo e a consumação deserta, solitária. amava a tudo e amava estar só. não era assim o mundo real. mas o amor era gosma e se apegava à paisagem onde passava. contaminando sem direção. só um amor realmente a diferenciava. o primeiro. e não por tudo o que o amor era. o amor crescera muito mais, desde então. mas por tudo o que ficara sem se resolver. e que ela ainda não resolvera.

terça-feira, 17 de maio de 2011

vasta valsa violeta

à irmã colecionadora de cacos
soluço prateado
acavernado flutuante
presenciou na madrugada
a tristeza da poeta
ao marcar de cinza breve
na pele uma flor
durou pelo instante
do sugar de outro poro
mas o olho frouxo d'água
lavou a marca flor
desfez-se em rimas pobres
escorreu por vento leve
e doce se guardou
não sabe a triste moça
por nao voltar ao luar errante
que um poema ali deixou
.

domingo, 15 de maio de 2011

Presente

Jamesson Buarque


Boneca do cabelo vermelho
Aos lábios de fogo mordendo
A tristeza por vir
Por que teus olhos castanhos
Choram tão verdes
Enquanto a chuva cai
Banhando de rosas o anis
De todos os jardins?

.

Deste lado ou Enquanto isso no hospício ou ainda Ela não acreditaria...

porque não surtar?

quando a esperança morre
e todas as bases estão perdidas
quando se confunde a vida
e a breve arte de viver

porque não surtar?

quando tudo o que se tem são fases
e não se nota mais perigo
quando só se sabe viver por inteiro
e só se vive com as metades

porque não surtar?

quando os entes não são queridos
quando prendem teus amigos
quando não se esquecem partes
e só se invertem posições

porque não surtar?

quando não existe medo
quando a chave é um segredo
quando não existem mais heróis
e só lhe indicam um psicólogo

como não surtar...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

é


é vazio
é infinito
é pulsão
é sentimento
é razão
é tenso
é verdade
é máscara
é equilibrio 
é metro
é queda 
é pulso 
é energia 
é sentimento 
é compreensão 
é silêncio
é destino 
é inconformidade
é ansiedade 
é aceitação 
é próximo
é leão
é vida
é amor 
é demonstração
é revelação 
é vontade 
é início 
é desejo 
é continuação
é fim
é espaço
é fundo 
é vago 
é ausência 
é falta 
e falta tudo

sábado, 30 de abril de 2011

o que se diz no 400º post

a possibilidade de se prolongar
se desfaz com a queda cristal
deve-se saber que não há outra primavera
a primavera semeia outro tempo
não há sentido em flor noutra voz
não se repetem as poucas palavras
não existem discursos para um consolo
e o que resta são restos de respiros
não se aprende vida em livros
não se existe nada entre estações
e talvez não baste mais gritar
suporta-se tudo por um segundo
o instante que se desfaz em taça
os cacos que não se deve ajuntar
nada se pode fazer pelo traço da ausência
a não ser se repetir
e se ausentar

Primavera de um segundo

quando a madrugada chegou já era tarde
os passos do silêncio já haviam despertado
o anseio de tocar lira em teus lábios
descobrir-lhe corpo em cobertor de versos
e despertar para nós a ausência do tempo

tua alvidez repousava na calma dos que sabem
o momento pássaro de sugar arpejos
e nas vãs tentativas de transpor-la em palavras
calavas tu no deserto de algum sonho
a espera vencida pela visita de um beijo

das horas que passei perdida em esperanças
ignorava orvalhos antigos desses olhos
revestia de branco meu luto e teu lugar
visitava precoce outras vezes manhã
e trazia tardia outras vozes medo

desbotada talvez alguma essência de acordo
amanhecida se fez a ausência de acordar

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mais do mesmo

eu sempre me precipito
é sempre esse precipício
e sempre minha vontade de saltar
é sempre a eterna ausência
sempre suspense e samba
sempre outro verso por acabar
sempre te direi o que não devo
sempre sentirei por inteiro
sempre aguardarei alguém chegar
é sempre esse sufoco do instante
e sempre me surpreende o velho
que pra sempre hei de colecionar
sempre no surto ou no susto
sempre o excesso de defeitos
que um dia ainda haverás de amar

domingo, 17 de abril de 2011

soneto não metrificado

me enganaram todo esse tempo
dizendo verdades repetidas
eu já não sei o que é mentira
nem de onde vem todo tormento

me atiraram por todos os lados
verdades de que me alimento
são tristes, velhos e fátuos
donos de seu conhecimento

acaso existe algo além do palmo
que colocas na ponta do nariz
acaso existe realmente escolha?

tenho nas mãos um plano alto
de sonhar um destino feliz
dentro de uma terra totalmente tola

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Carta adormecida

pensei seriamente em me despedir. dessa vez e de todas as outras... um basta, um adeus, um ponto final. me disseram pra não fazer isso. amigos, companheiros, astros e tarot estão a seu favor. penso também que despedida seria algo drástico. um excesso de dramaticidade para o pouco que temos. não me despeço. aguardo a efemeridade dos momentos vindouros e aceito todas as mudanças desse percurso tortuoso que é sua estrada. estrada que não corre para o meu mar. escrevi-lhe versos. versos que nem são versos... são coisas bobas, de ingenuidade brilhante e pouca técnica profissional. porém, a minha falta de ter um papel importante na tua vida me transborda de papéis com versos interrompidos.

"As horas que passo em compania de teus sonhos valem-me a ausência dos teus beijos, sei que não é uma primeira vez, mas tudo grita com a bestialidade infante de sorrisos simples e anéis de seda, sei também que dormes eterna em si, esquecida de seu brinquedo novo que aguarda aflito ao lado [...]"

é muito cedo, é muito tarde. e eu sei que assusto. sei que desboto, que transcendo, que expresso, que espanto. mas acontece-me de ser assim. suja, sem casa, sem juízo, sem dinheiro, poeta... entregando a quem achar que mereça a chave de meus antigos relicários, desbotando-me no calor de outra pele, da tua pele, o resto de tristeza existente.
e como isso não é uma carta de adeus, deixarei a você que escreva o final.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

se por chaves de corrigir o tempo
esse retrato fossem tantos outros
e se nos meus braços crescessem em prosa
essa nossa história de calendários
tua imagem para mim o que seria?

- o mesmo que sereias para Gerardo
reformulada em versos de Gyannini? -

e se consumisse-mos todo o amor
e esse presente fosse uma outra página
virada nas rasteiras da amizade
nessa nossa ausência de aniversários
minha imagem para ti o que seria?

- velha canção ouvida em supermercado
tão sagrada lembrança não lembrada? -

sem essa ausência que ocupa-me a tarde
e emoldura-se em versos não vividos
sem nunca ter tocado os teus sorrisos
nessa não história por mim reinventada
acaso alguma imagem eu teria?

- o destino dos espelhos guardados
amar o avesso de tê-la algum dia –

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poema à moça que dorme

pela rua olhas espelho
pela noite pele e cabelos
trançam teu rosto de penas
pernas pupilam pelos teus seios
retina de meus sorrisos íntimos
revelados no furtivo de um beijo
de relutância e de epifanias
dorme agora desculpa e respira
descobre em meu colo morada
amontoada em pequenas migalhas
pois há sempre um mistério na noite
há sempre uma coragem guardada
para cada aspas perdida
sempre uma estrela encontrada

terça-feira, 22 de março de 2011

Fadiga


a Dhey
  

    todos os conselhos são errados          todos os teus passos são calados
           o conselho é sempre outro              o destino é sempre noturno
            o destino é sempre percurso                    a queda é sempre maio
    a queda é sempre caio                        teu silencio é sempre tolo
            teu silêncio é sempre novo               o passo é sempre ouro
    e me espanta de soslaio                    e me expande teu contrário




terça-feira, 15 de março de 2011

meu pequeno amor,


dôo-te os meus instintos mais primitivos, na busca incessável de encontrar a minha resposta. o pequeno instante que vivemos juntos desembocou-me rios profundos e tento não te acertar com tanta correnteza. meu intuito de ser cega fazia de mim uma pessoa de mãos limpas. agora, o intervalo de nossas rotas te faz presente em todo o meu caminho. sigo e consigo concentrar ainda aquela nossa energia. mas até quando? precisava de tuas mãos.

estrago

é o que sempre faço. e olha que juro que não é o que eu queria fazer com você... embora tantas as vezes essa promessa foi repetida, algo aqui está diferente. o meu sim, a sua negação, a suspensão de seus olhos, o seu mesmo tratamento de antes, o meu dia inteiro pensando em quando ver, em como conversar mais que duas sílabas sem me denunciar em você... pequeno amor, me conte um segredo: como te denunciar em mim?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Resposta ao bem que um dia já veio a minha visita

minha pequena,

a monstruosidade do que escreve me aprofunda em minhas formas mais opostas. a mediocridade toma todos os segundos, entretanto, o belo de tuas formas é presente em meu corpo, e veja só, eram sim aqueles girassóis da cor de teu vestido. Não é preciso se sujar muito. mas lace-me em tuas liberdades simuladas e simule a razão do não acontecido. desejo sobreviver.

meu amor, basta sugar meus sentimentos e esgotá-lo em toda a tua forma; seja todas as minhas intenções alheias e confira-me de tanto em quanto eu te dormir, para sonhar comigo; ainda espero seu toque, para que a noite passada se faça presente, para que eu não morra de saudade, para que a realidade tome sentido.

.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ene

imensa vontade

[ necessidade
desejo ]

ainda em algum lugar um beija flor
] voa

grafando falta em meus rabiscos

por eles de escorpião

e por todos os outros que ainda virão

com uso de reticencias e sem til

das rimas pobres de tantos poetas

omitidas

lápide migalha do engasgo garganta

ao grito molhado do peito

escorre as estancas do tempo

presença 

nariz

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ve

 à Eveline Almeida

versos vencidos de uma visita
ao lugar onde bailarina vendia
passos de uma reviravolta
dança chamada vida vinda
daqui para tão longe que vem
esperando dançar vitorias de
um venerado encontro que o
verde do mar valeu de palco
veloz e veio trazendo em ondas
o medo de volta de tudo que
convulsionado vento virou de
ponta dos pés à ponta cabeça