Rômulo Rodrigues
A ti, a quem, avisado da dor que sentiria se te amasse,
não temi a dor, mas prossegui amando...
Então, tu sabes, desde antes te perdoara,
desde antes, estivera pronto para te perder
e te guardar pra sempre
entre meus amores...
Que dia foi que eu te vi?
Que dia foi?
Despetalada e triste e suja e bela...
assim, deixada, desenganada, cheia de trela...
A rosa, a flor, o passarinho a espera...
Que dia foi que te vi,
colibri dourado,
malogrado amor por ensimesmado eu?
Que dia foi?
Porque diante de tanta luz
tu apagaste o meu suspiro
desesperada pelo teu sofrimento constante,
desamor constante,
desconcertante descontentamento
de que fizestes em tua vida
o alimento?
Vives a dizer "eu amo"
enquanto sem amor por si,
e mesmo assim ensimesmada,
derramas cada dia,
cada gota,
a vida pouca que te basta!
E por que te basta, assim,
tão pouca vida?
Cismo, grave: será porque aprendestes
a viver do nada?
Ou será porque, desse nada que tu vives,
sem amor, desconsolada,
é que retiras todo estro da tua poesia?
E o rio mar que drummond andrade
poderia dizer de ti:
sim, trouxestes a chave!
Mas mais ainda,
a ela te apegaste
com tal apreço aguerrida,
que não te basta a morte,
nem te chega a vida_
Como o ideal do avesso,
porém, platônica ainda,
te ris de todo medo,
e de toda dor,
e de todo amor que de ti isolas
para perder-se de toda felicidade_
Antes, então, a solidão e a dor
(a tua e a de todos),
nada mais te importa
que derramar teu estro
livremente
porque tu tens a chave!
E daí pergunto uma vez mais:
Que dia foi que te vi?
Que dia foi?
Foi nunca, eu sei!
Nunca te vi e te amei...
um amor maior que eu quisera
sem jamais saber-te, eu sei!
E agora, aqui, inquieto, choro
e grito o grito tolo dos aflitos...
O grito de quem nadou em seu corpo,
De quem beijou todos os seus lábios,
De quem bebeu em todos os teus fossos,
De quem se perdeu em teus calabouços
E em tuas masmorras é torturado!
Sim, nunca te vi, ainda que estive dentro de ti,
Nunca te vi, ainda que renasci em teu peito,
Eu mesma a flor do meu doce amor por ti,
Nunca te vi!
Mas que saudade assim do rio mar que corre e
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