Verídico

Homens como sombras
Invadem minha vida
Do meu leito profundo

Desperto.
Estática.
De movimento, apenas o olhar.
Tenho medo
Minha mente grita:
FIQUE ONDE ESTÁ!
E meu corpo
Capacho manso
Obedece sem questionar
Mas no fundo sei que algo seve ser feito
Ondas de medo percorrem meu corpo
Espasmos
Movo-me silenciosamente
Dou um telefonema
Chega-me a ajuda
Revisto-me de uma coragem nova
Vou olhar
Mas a ajuda não enxerga
As mesmas sombras que eu
Não ouve
O mesmo barulho que eu
Logo me deixam novamente só
Medo, medo, medo, medo.
Atenta ao mínimo barulho deles
Assim como eles ao meu
Ambos orgulhosos
Ou medrosos demais para ceder
Quero escrever
Mas cada movimento meu
É mais pesado do que chumbo
Rendo-me ao seu sistema
Ajoelho, engatinho
Caneta...
Alguma hora eles vão ter que ir embora
Isso é igual a barulho
Medo, medo, medo, medo.
BACK TO YOUR BED!
Grita minha mente
E me faz ir a vôos longínquos
A mais de dois mil quilômetros de distância
Distraio-me...
Como uma auto-sabotagem
Que minha mente faz.
E se eles decidiram
Levar adiante o plano
E me roubar?
Faço barulho
É inevitável em minha profissão
Descubro um novo posto
De observação
Observo...
Medo, medo, medo, medo...
Silêncio total
Procuro escrever
Mas não posso mais por os olhos no papel
Frações de segundos
Condenam-me
Liberta-os
O galo canta
O grilo canta
Ai, que vontade de cantar.
Não...
Observo os dois lados
Sei que estão fora do alcance de minha visão
Vejo sombras humanas em todos os lugares
Imaginação...
O sol começa a nascer
Como num milagre
Meu quarto se enche de uma profusão de azuis
Meu coração dispara
Pressinto
Barulho
Finalmente barulho
Passos...
Corro pra ver
Do primeiro posto de observação
Olho
E vejo:
Um gato.
A decepção fere cada ponto de meu corpo.
Agulhadas sem fim.

Desvio o olhar...
Viro-me
Pelo canto do olho vejo
Por frações de segundos
Que me parecem anos
Três sombras humanas
Que sobem as escadas

Volto-me instantaneamente
O gato não está mais lá...