sábado, 19 de julho de 2008

Desconstruindo-me

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Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.



Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.



Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.



Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.



Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.



Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.



Porque há o direito ao grito.
Então eu grito.



Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.



Eu não sou promíscua.
Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.



E se me achar esquisita,respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar.



Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada



...sua sensibilidade incomodava sem ser dolorosa, como uma unha quebrada.
E se quisesse podia permitir-se o luxo de se tornar ainda mais sensível, ainda podia ir mais adiante...



Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.



Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.



Só se sente nos ouvidos o próprio coração...
Pois nós não fomos feitos, senão, para o pequeno silêncio.


"


Clarice Lispector




Vai me entender assim lá na...

Um comentário:

Perfume marinho disse...

Carice!




perfeita...