ela acordou em mais um dia normal. cansada, atrasada, deixada por fazer. a morte lhe visitava pelas manhãs e ela não escondia mais as olheiras, não fazia mais questão de se esconder. apenas existia, não se sabe porque, em um mundo que já não fazia mais sentido. todo o esforço concentrado em terminar as ideias que lhe eram refutadas, dentro de um labirinto que suas concepções condenavam, era desgastante e em vão. sempre havia outra porta, que dava para outra porta, que se fechava em outras portas. não havia ajuda, não havia auxílio, se fora o tempo dos milagres. o milagre que ela esperava, nunca acontecera. houve um tempo em que ela encontrou o centro do labirinto. e nele, um espelho. nesse tempo, ela acreditou fielmente na imagem refletida como porta de saída. e tentou ir até o fim. se doava em respostas, seguia intuições, se apegava aos pequenos sinais, defendia seus passos com a convicção de um cão farejador. porém o tempo se divertia, lhe dando pistas erradas, farejos sem volta e nenhuma bateria a se recarregar. a saída nunca foi encontrada. a falta de energia do labirinto a contaminava de estranheza. ela não tinha ninguém ao seu lado, e seguia, congelada. a cada nova tentativa um novo retorno ao mesmo ponto, que há tempos perdera qual era. dormir já não lhe era habitual e aquela imagem que guardava como resposta se desfazia em borrão, que se desfazia em pontos de luz, que a refaziam como o próprio escuro. seguia inerte seu ciclo, por um caminho novo e pelo mesmo caminho. se matando para chegar no horário, se matando para cumprir os prazos, se matando para se mostrar saudável, para demonstrar cuidado. se matando para não morrer.
'Fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.' [Lispector!]
sexta-feira, 20 de maio de 2011
quinta-feira, 19 de maio de 2011
porque os amores imperfeitos são as flores da estação...
o amor assim, era luz. e ela amava. não importa a quantidade de eu te amos ditos no passado. o amor era o amor. vivo e habitado nela desde então. eles não se acostumavam com o amor que ela dava. e não tinham mesmo que se acostumar. esse excesso de luz e luto. o extremismo e a consumação deserta, solitária. amava a tudo e amava estar só. não era assim o mundo real. mas o amor era gosma e se apegava à paisagem onde passava. contaminando sem direção. só um amor realmente a diferenciava. o primeiro. e não por tudo o que o amor era. o amor crescera muito mais, desde então. mas por tudo o que ficara sem se resolver. e que ela ainda não resolvera.
Passagens Secretas:
Bom dia,
Carolíngeos,
Devaneios,
será?
terça-feira, 17 de maio de 2011
vasta valsa violeta
à irmã colecionadora de cacos
soluço prateado
acavernado flutuante
presenciou na madrugada
a tristeza da poeta
ao marcar de cinza breve
na pele uma flor
durou pelo instante
do sugar de outro poro
mas o olho frouxo d'água
lavou a marca flor
desfez-se em rimas pobres
escorreu por vento leve
e doce se guardou
não sabe a triste moça
por nao voltar ao luar errante
que um poema ali deixou
.
Passagens Secretas:
Cinzas de rosas...,
Madrugada encatada,
será?
domingo, 15 de maio de 2011
Presente
Jamesson Buarque
Boneca do cabelo vermelho
Aos lábios de fogo mordendo
A tristeza por vir
Por que teus olhos castanhos
Choram tão verdes
Enquanto a chuva cai
Banhando de rosas o anis
De todos os jardins?
.
Passagens Secretas:
des oriente-se,
Presente
Deste lado ou Enquanto isso no hospício ou ainda Ela não acreditaria...
porque não surtar?
quando a esperança morre
e todas as bases estão perdidas
quando se confunde a vida
e a breve arte de viver
porque não surtar?
quando tudo o que se tem são fases
e não se nota mais perigo
quando só se sabe viver por inteiro
e só se vive com as metades
porque não surtar?
quando os entes não são queridos
quando prendem teus amigos
quando não se esquecem partes
e só se invertem posições
porque não surtar?
quando não existe medo
quando a chave é um segredo
quando não existem mais heróis
e só lhe indicam um psicólogo
como não surtar...
quando a esperança morre
e todas as bases estão perdidas
quando se confunde a vida
e a breve arte de viver
porque não surtar?
quando tudo o que se tem são fases
e não se nota mais perigo
quando só se sabe viver por inteiro
e só se vive com as metades
porque não surtar?
quando os entes não são queridos
quando prendem teus amigos
quando não se esquecem partes
e só se invertem posições
porque não surtar?
quando não existe medo
quando a chave é um segredo
quando não existem mais heróis
e só lhe indicam um psicólogo
como não surtar...
Passagens Secretas:
Boa noite,
Devaneios,
O vento em minhas asas,
será?
sexta-feira, 6 de maio de 2011
é
é vazio
é infinito
é pulsão
é sentimento
é razão
é tenso
é verdade
é máscara
é equilibrio
é metro
é queda
é pulso
é energia
é sentimento
é compreensão
é silêncio
é destino
é inconformidade
é ansiedade
é aceitação
é próximo
é leão
é vida
é amor
é demonstração
é revelação
é vontade
é início
é desejo
é continuação
é fim
é espaço
é fundo
é vago
é ausência
é falta
e falta tudo
Passagens Secretas:
alfabeto,
Boa noite,
Bom dia,
O vento em minhas asas
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